Jovem de novo

Há alguns dias atrás me intrometi numa publicação de amigos da faculdade no Facebook onde a galera estava postando sem parar uma série de links de músicas da antiga™.

 

Muito bom saber que há anos atrás tinha gente que faz parte do meu círculo hoje e que ouvia praticamente tudo que eu gostava. Melhor ainda foi o resultado da brincadeira: uma publicação com mais de 700 comentários, contribuições refinadíssimas dos meus amigos e colegas de faculdade que têm um ótimo gosto e referência músical (rs), e também essa playlist com quase 5 horas de música que fiz no Spotify e não paro de ouvir há dias. Haja falta do que fazer.

Tô doido pra colocar tudo isso pra tocar numa festa. Quem anima?

Quem quiser pode deixar nos comentários a sua contribuição também. Enjoy!

 

Uma nota sobre Voltaire

Provavelmente a primeira coisa que vem a cabeça quando se fala de Voltaire é sua eterna frase que já virou citação clássica de Facebook (Clarice Lispector não curtiu isto): ”posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-lo”. Nesse momento ocorre uma atração momentânea, porém, ao mesmo tempo, o cérebro já começa a emitir um alerta vermelho de chatice infinita, principalmente se o seu interlocutor costuma dar uma de sabichão fazendo a citação em Francês. 

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Apesar disso, há mais profundidade na literatura clássica do que o senso comum nos permite enxergar primordialmente. Voltaire era, além de um grande erudito e libertário, um eterno zuão. Expressava suas concepções com fina ironia, sem abandonar o sarcasmo. 

Focarei minha lambeção de saco em ”Cândido”, uma das obras mais conhecidas de Voltaire. O texto, apesar de ter sido publicado em 1759, em um contexto tão remoto e oposto à contemporaneidade, contrapõe diversas destrezas desse ser racional chamando humano, como por exemplo a ingenuidade e a esperteza, o desprendimento e a ganância, a caridade e o egoísmo, a delicadeza e a violência, o amor e o ódio. Tudo isso misturado com discussões filosóficas sobre causas e efeitos, razão e ética, levando a priori as decepções individuais que os personagens sofrem a partir do momento em que saem – ou são jogados para fora – da ”bolha” para a realidade que chamamos de vida. 

Conhecer um pouco mais dessa característica idealizada, porém não longe da realidade, sobre seres que viveram há quase três séculos atrás e perceber que ainda existe muito neles que fala diretamente conosco, mulheres e homens modernos, perdidos no século XXI, é o melhor motivo para se deleitar em sua obra. Ademais, abstenho das minhas palavras e apresento três pedaços que particularmente chamaram a minha atenção em Cândido. 

 

”Duas lindas criadinhas, muito asseadas, serviram chocolate bem espumado. Cândido não pôde deixar de lhes louvar a beleza e amabilidade.

 – São excelentes criaturas – disse o senador Pococurante. – Levo-as às vezes para o meu leito, pois já estou farto das damas da cidade, das suas mesquinhezas, do seu orgulho, das suas tolices, e dos sonetos que é preciso fazer ou encomendar para elas. Mas, afinal de contas, essas duas raparigas começam a aborrecer-me.”

Palavras de um senador conhecedor do mundo, além de intelectual invejável e crítico provido de uma biblioteca chatice nível master (brimks rs). 

”Pois haverá coisa mais tola do que carregar continuamente um fardo que sempre se quer lançar por terra? Ter horror à própria existência e apegar-se a ela. Acariciar, enfim, a serpente que nos devora, até que nos haja engolido o coração?” 

Palavras de uma velha senhora, que foi filha de um papa e que após sofrer com a acerbidade da vida, demonstra um pouco do que aprendeu com isso, além de seu pouco apreço as suas raízes. 

”- Pois bem! meu caro Pangloss – disse Cândido, – enquanto eras enforcado, dissecado, espancado e remavas nas galeras, sempre achavas que tudo ia o melhor possível?

Mantenho a minha primitiva opinião – respondeu Pangloss, – pois afinal sou filósofo: não me convém desfazer-me (…) e a harmonia preestabelecida é a mais bela coisa do mundo, bem como o todo e a matéria sutil.”

Diálogo de Cândido, um eterno ingênuo que vê no otimista Pangloss um sábio-mor. 

 

Paro por aqui. E espero ter atingido meu objetivo com poucos trechos. A obra é extensa, com riqueza de detalhes, de fácil leitura e logo, pouco tediosa.